A princípio achei realmente que não iria aguentar, tanto
tempo juntos, tanta vida dedicada, tanto companheirismo, mas veja só aguentei.
Não serei hipócrita ao ponto de dizer que não penso nele, longe de mim, ainda
penso nele todos os dias, hipocrisia maior seria dizer que nesse meio tempo que
estamos separados eu não o desejei nenhuma vez, mas quatorze anos, são quatorze
anos, acredito que seja normal essa tal lembrança continua.
Ainda sinto o cheiro dele na casa, principalmente no quarto,
mas especificamente próximo a minha cama, isso acontece muito lá pelas três da
manhã, vem acontecido todos os dias desde que deixei ele, e depois disso acordo
e não consigo mais dormir. O cheiro dele fica pelo quarto e na minha cabeça.
Acho que nunca foi exatamente ele, era, talvez quem eu
era ao lado dele, ele me deixava forte, com ele eu era intocável, eu era eu
doesse a quem doesse, ele me fazia sentir mais viva, mas digamos a dona da
razão, o fato de tê-lo por perto me acalmava sabe, me deixava segura, era como
se de determinada forma ele fizesse uma barreira que impedisse os outros de
chegar até mim, mas mesmo assim me tronava mais despojada, mais digamos
popular.
Ainda me sinto perdida em público sem ele. Acho que me
sinto perdida na minha casa sem ele, minha vida ao lado dele tinha horários,
tinha hábitos. Ainda é difícil ficar sozinha em casa num dia comum e não ter a
companhia dele.
Ah, a falta que ele me faz em determinados momentos,
ainda lembro de como éramos unidos, éramos tão cúmplices. Mas hoje vejo que era
tudo eu, era como se eu tivesse vivido esse quatorze anos cega, era digamos que
algo insano, onde eu fui me perdendo, perdendo, meu tempo, perdendo um pouco de
saúde também, porque embora muitas vezes ele me trouxesse paz, muitas vezes me
fez mal também, era um relacionamento estranho e maravilhoso.
Esse vício, sim porque era um vício, cruzou o meu
caminho, e me acompanhou até pouco tempo, estamos separados a pouco tempo, mas
ainda consigo sentir o meu cheiro e embora doa admitir ainda amo esse cheiro
tão nosso.
A linha do amor, vício e da dependência é bem tênue, acho
que no começo era amor ao “status” fumante, pois acredite há uns quatorze anos
o fato de você fumar por si só já te tornava uma pessoa interessante, passei
alguns anos oscilando entre o vício e a dependência, nomeei esse meio do
caminho de “habito”, e agora antes que passe para a dependência abandono meu
habito, que um dia foi meu amor e que ainda me deixa entorpecida com o seu
cheiro.
Sempre fui daquele tipo de pessoa que acha que uma coisa
leva a outra e que tudo na vida a gente passa por necessidade de evoluir,
acredito que nesse caso meu aprendizado tenha sido de que somos mais forte que
qualquer vicio, amor ou habito, nada se opõe a nossa força de vontade de ser
alguém melhor.
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